Centro de Apoio à Pessoa em Luto

domingo, 4 de abril de 2010

Reencontro


Levantei-me ainda da mesma forma que me deitei; triste....tristemente triste.
Abri a janela, e olhei o mundo como se já nada fosse igual ao que antes era.
Hoje está um pouco frio, o dia está nublado, e triste como eu.
Hoje o dia está a preto e branco como está o meu interior desde que voaste....
Vivo sem sentido desde que abriste as tuas asas e voaste acima das nuvens....eras tão importante para mim que o sentido do meu mundo e da minha vida eras tu....

Ocupei algum tempo; não sei quanto... simplesmente a olhar o vazio do mundo pela janela do meu quarto, através do vazio de sentido da minha existência oca por não te sentir.

Lágrimas começaram-me a querer fugir da cara...tentei ser forte e não chorar...tentei ser forte e enganar o sofrimento...mas é nestas alturas da vida que nos apercebemos que, sermos fortes é simplesmente ter a coragem de sofrer e sentir verdadeiramente a saudade da intensidade do amor vivido.

Lágrimas começaram-me a escorrer pela cara, pois tive a coragem de chorar....e chorei como choram as crianças...chorei olhando o vazio do mundo pela minha janela através do vazio do meu interior....chorei simplesmente chorando...

Não sei porquê, decidi escolher aquela música que me caracteriza e que me define.
Começei a ouvi-la....começei a sentir a música...começei sofrer ainda mais....não sei bem porquê....

Eu não estva bem!
EU TINHA DE FAZER ALGUMA COISA POR MIM....
Tinha de erger-me deste sofrimento que me está a destruir...e a ti também....
Até que aquela vozinha no meu interior disse-me algo...que eu atentamente escutei e prometi que mais logo na hora certa faria....

O dia passou...até começou a chegar aquele momento certo.
Pus-me rapidamente a caminho para chegar à hora que pertendia e fazer o que tinha planeado..
Cheguei à praia, perto da hora do pôr-do-sol....estendi a minha toalha....e olhei o mar....olhei-o....olhei-o.

Despi-me e fiquei de calções de banho; o sol entretanto já tinha descido mais um pouco, e o céu estava com tons de fogo.....senti que era este o nosso momento outra vez.....

Mergulhei no mar, para te encontrar, com pressa; com revolta; com tristeza; com nostalgia; com uma leve agonia e medo de não te encontrar, mas mesmo assim mergulhei para te procurar.

Parei de nadar...começei simplesmente a sentir o mar...as ondas...a praia...algumas gaivotas que passavam...o cheiro do mar...a nostalgia do absoluto; enfim a força de Deus e da natureza.

Sentir tudo isso acalmou-me; essa calma fez-me boiar...e isso acalmou-me ainda mais...olhei para o entardecer, para o fogo no céu, e fez-me lembrar os teus longos e sedosos cabelos...selvagens mas meigos e macios...aí as lágrimas voltaram a aparecer...parei de boiar....continuei a chorar olhando o entardecer...

Até que uma leve brisa soprou e eu arrepiei-me...tive coragem e fechei os olhos...
E sentindo o mar...senti-te em mim...

Foi entao que parei de chorar; começei a sorrir e mergulhei no mar para te amar....fiquei tanto tempo de baixo de água quanto a força dos meus pulmões permitiram...

Mergulhei no mar para mergulhar em ti....e estando debaixo de água...senti-te tanto, senti que me amavas, que te amo, enfim que nos AMAMOS como sempre e sempre nos amaremos assim.

Mergulhei no mar para te voltar a sentir...e senti-te!

O ar nos meus pulmões esgotaram-se e tive que voltar a subir....quando voltei...não sei porquê mergulhei muitas vezes...”apanhei” muitas ondas como quando fazia quando era pequeno...entretanto o pôr-do-sol estava a chegar ao fim...a hora mágica do momento certo estava a acabar...

Quando estava dentro de água; senti-te perto....tão perto....senti-me acompanhado e completo...senti que estas dentro de mim...para todo o sempre...

Eu sei que não vais voltar, mas quero para sempre te guardar.

Sinto-te perto...cada vez mais perto....mesmo estando tu tão longe...

1 comentário:

Ana Diogo disse...

Nas pequenas coisas maravilhosas que nos rodeiam estão muitas vezes pedaços na nossa história... E nunca estamos sós quando nos temos por companhia, porque o nosso todo é uma tela de histórias e memorias gaurdadas dentro de nós.. Gostei muito amigo... Tixa... Bejinho