Centro de Apoio à Pessoa em Luto

segunda-feira, 30 de março de 2009

Desabafo...

O dia era de primavera, mas de repente a noite tornou-se em inverno, porque tu decidiste passar pelo Outono e deixar-te cair desta vida para algo que todos temos como certo e que ansiamos seja melhor do que aqui…. Morreste, sem que nós te tivéssemos dado licença, nem tivéssemos tido tempo de o evitar.

Tanta coisa ficou por te dizer, tantas partilhas, muitas alegrias, algumas inseguranças, algumas tristezas, muitos medos e muitos novos passos.

Sei que agora onde estás me podes ver e ouvir, por certo dás-me muitas vezes as respostas ás perguntas que te faço mas que infelizmente não consigo ouvir, sendo assim vou pôr as coisas em dia e contar-te tudo o que deixei por dizer… espero que não te arrependas de ter sido meu pai e que me perdoes o ter andado por vezes tão perto mas tão longe…

Vou contar-te todos os dias especiais e todos os menos importantes para que nada, desta vez, fique por dizer… sendo assim começo pela frase nunca dita, Gosto muito de ti e és o melhor pai do mundo.
Foi assim que comecei uma listagens de desabafos que não fiz com o meu pai durante o tempo em que o tive presente, pensei sempre que o dia de ele partir estava longe e que havia muito tempo para o fazer.... mas o tempo fugiu... não deixem o vosso tempo fugir como a areia por entre os dedos e digam a quem merece ouvir: Gosto muito de ti...

quinta-feira, 26 de março de 2009

Felizmente Felizes


"A vida é uma caminhada que se espera que venha a ser longa. Desejamos experimentar que crescemos, que nos tornamos mais conhecedores do mundo, que nos sentimos mais seguros e livres nas nossas emoções, que julgamos com mais sabedoria e tranquilidade tudo o que decorre à nossa volta. Esse é o caminho da vida que ambicionamos ter, e, pela curiosidade incessante que se aloja dentro de nós, todo o tempo disponível nunca é suficiente para o que julgamos indispensável alcançar. O fim do ciclo de todas essas experiências, a morte, constitui-se assim como um espectro assombroso e temido que há que afastar, a todo o custo, do universo do nosso pensamento. Apesar dos quadros de esperança que possamos esboçar para a mantermos longe de nós, a morte procura-nos em qualquer momento. Atravessa todas as estapas da nossa vida e, por isso mesmo, devemos estar preparados para a receber com serenidade. A evolução da vitalidade física, da sabedoria, da inteligência, das emoções e do relacionamento social que se desenrola ao longo da nossa existência condiciona o modo como encaramos a morte nesse percurso: no início da vida, desconhecemo-la; mais tarde, temos dificuldade em atribuir-lhe significado; na adolescência, quando queremos vincar a nossa personalidade, desafiamo-la até; enquanto adultos, tentamos ignorá-la; e, na velhiçe, preparamo-nos para ela."

Rebelo, J. E. (2007). Desatar o nó do luto: Silêncio, Receios e Tabus, 3ª edição, Lisboa, Casa das Letras.

"Num cruzeiro que atravessa os sete mares imensos da vida, entre bonanças de alegria e felicidade e tempestades de tristeza e infortúnios, vogamos na certeza de um porto seguro, o que cimentamos em cada dia que passa, pedaço a pedaço, com a placidez do incansável amor."

Rebelo, J. E. (2009). Amor, Luto e Solidão, 1ª edição, Lisboa, Casa das Letras



Foi com grande entusiasmo que assisti à apresentação do novo Livro "Amor, Luto e Solidão "do Dr. José Eduardo Rebelo.

A quente e agradável tarde que se fazia sentir deu lugar ao passeio das inteligentes palavras do autor e do Dr. Moita Flores que nos convidaram a uma reflexão sobre os territórios da morte, luto, solidão e amor.

Realmente quanto maior for o espaço ocupado pelo outro no nosso ser, maior será a dor da despovoação física deste mesmo outro. No entanto, a morte pode assumir diversas perspectivas, consoante aquelas que o sujeito lhes queira fazer assumir. Será fácil e um pouco doloroso dizer e, sobretudo sentir, que a pessoa querida perdida estará viva enquanto estiver presente nas nossas doces e suaves memórias, no entanto, são estas doces e suaves memórias que nos restam. Como foi dito na apresentação, só o rearranjo deste puzzle de memórias e de sentires no nosso mundo interno, fará com que consigamos realizar novos investimentos afectivos, novos passos em direcção àquilo que será sempre o nosso desejo intrinseco e fiel: sermos felizmente felizes.


Até sempre.


André Viegas

segunda-feira, 23 de março de 2009

Meu pé de laranja lima....

Um resumo de um livro fascinante que conta a história veridica de José Mauro Vasconcelos, quando na sua infância descobriu a dor da perda de alguém muito amado e importante.... Leitura acessível e uma história de "amor" pela vida e pelos sentimentos humanos...



"Um garoto chamado Zezé, tinha 6 anos (ou 5 mas gostava de dizer que ele tinha seis). Ele vivia em uma casa de tamanho médio, seu pai se chamava Paulo, e estava desempregado, sua mãe, que por causa de seu marido desempregado trabalhava até tarde numa fábrica, e mais três irmãos: Totoca, Jandira e Glória. Por causa do desemprego de seu pai, eles foram obrigados a mudar para uma casa menor, onde o garoto conheceu Minguinho seu pé de laranja lima, que fica sendo seu melhor e único amigo. Como o moleque sempre foi muito arteiro, recebeu muitas palmadas e era surrado constantemente, apesar de que as vezes não tinha culpa do que acontecia. O garoto tinha cinco anos, aprendeu a ler e por isso foi a escola mais cedo. Lá ele era um garoto muito comportado e gostava muito da professora Célia Paím, ao qual, levava flores todos os dias, e apesar de contarem a ela o diabinho que ele era, ela não acreditava. Um dia o garoto foi pegar uma carona do lado de fora do carro, mas o carro era de um português chamado Manuel Valandarez, que tinha o carro mais bonito da cidade. O português viu isto e lhe deu uma surra que o garoto jurou se vingar. Mas o tempo foi passando e o garoto ia se esquecendo. E num dia ele pisou num caco de vidro que abriu um corte, mas mesmo assim o garoto ficou decidido de ir para a escola. Enquanto atravessava uma rua o português viu o garoto e pediu para ver o corte. Vendo aquele corte enorme ele levou o garoto de carro até o hospital, e fizeram muitos ponto nele. Desde então eles ficaram muito amigos e o português foi lhe tratando como um filho, sempre muito carinhoso. Foram até pescar algumas vezes e passavam a tarde toda juntos. Outras vezes iam tomar sorvete e fazer outras coisas. Outra vez o português deixou o menino andar de carona em seu carro, o português o convenceu até de não falar mais palavrões. Eles eram muito amigos até que ele recebeu a notícia que o carro do português foi esmagado por um trem, o português não resistiu e morreu. O garoto entrou numa depressão profunda, e como a família desconhecia a sua amizade com o português, eles acharam que foi a notícia que seu pé de laranja lima seria cortado. O garoto permaneceu dias comendo pouco, sem falar, deitado em sua cama e querendo morrer. Mas com as palavras de Glória, sua irmã preferida, ele conseguiu retornar a sua vida normal."

quinta-feira, 19 de março de 2009

A grandeza das coisas


"Os reis deixaram aqui as suas coroas e os seus ceptros; os heróis, as suas armas. Mas os grandes espíritos, cuja glória estava neles e não em coisas externas, levaram com eles a sua grandeza".


A grandeza das coisas muitas vezes é nos deixada por aqueles que partem. Abalados na dor do desligar corporal do outro, percebemos que, de alguma forma, continuamos o outro através de gestos, pequenos bafos de felecidade que, mesmo em microsegundos, duram uma eterninadade.

Somos emocionalmente inteligentes para prosseguirmos para as coisas que atraem o nosso bem estar. Quando esse bem estar parece nunca mais chegar, ai é sinal que precisamos de uma pequena ajuda paraa percebermos como poderemos chegar a um bem estar.

Com pedras ou não no caminho, o percurso faz-se de abalos gravitacionais. Mas o que nos atrai? Que híman nos chama hoje?

No fundo, com a perda de alguém ou algo, aprendemos que só nos podemos dar, se nos arriscarmos sentir...e muitos, também, não querendo mais sentir, acabam por não se darem mais mas, afinal, só pode voar quem arriscar cair!


À família e aos amigos de todos aqueles que partiram, a Apelo espera que este momento de pesar, de dor e sofrimento passe o mais breve possível. Queremos agradecer pela confiança que têm demonstrado no procurar a Apelo. Acreditamos que esteja a ser árduo, mas também sabemos que as boas memórias serão eternas e que a força que herdaram com a tal pessoa especial vos ajudará a enfrentar as próximas batalhas, a viverem os próximos dias de chuva e de sol! Estaremos aqui nesses dias!


Até Sempre.


André Viegas

segunda-feira, 16 de março de 2009

"Amor, Luto e Solidão"


Está agendado para 26 de Março o lançamento em Lisboa do novo livro do Presidente da Apelo, Dr. José Eduardo Rebelo, que se intitula "Amor, Luto e Solidão". Será às 19h00, na FNAC do CC Chiado, e terá a apresentá-lo o Dr. Moita Flores.
Após uma prévia abordagem, sensível e rigorosa, sobre perdas emocionais profundas no livro Desatar o Nó do Luto, o autor revela-nos, nesta obra de leitura acessível, uma perspectiva alargada e compreensiva sobre a construção, a manutenção e a perda de afectos. Amor, luto e solidão são os vértices de um triângulo de existência percorrido no folhear das páginas, em que são dadas respostas a como construir e preservar o amor conjugal, que trilhos adoptar no luto e se é inevitável a solidão.
Neste livro, o leitor realiza uma viagem simples, serena e aconchegante ao mundo da construção, da manutenção e da perda dos afectos, seguindo um roteiro em que o amor é a força motriz que o fará transpor de forma sadia o tenebroso túnel do luto e da solidão.
A NÃO PERDER!

quinta-feira, 12 de março de 2009


Depois de algum tempo afastada, já com muitas saudades, hoje deixarei uma palavra diferente. Hoje o post, será para aqueles que acompanham as pessoas em luto. Deixo aqui os principios da ajuda a uma pessoa em Luto.

- Ninguém expressa nem reage da mesma forma ao luto.
- Evitar frases como "Todos um dia morremos" "és jovem podes ter outro filho" "segue em frente" "podes voltar a casar".
- Não comparar tragédias como "e se em vez de perder uma pessoa fosses como o joaquim que perdeu a familia toda?"
- Identificar sentimentos de raiva, irritação e culpa.
- Normalizar as emoções intensas.
- Esclarecer que a pessoa se vai sentir pior, antes de melhorar.
- Não temer revelar os próprios sentimentos.
- Ouvir a história da perda todas as vezes que a pessoa quiser falar nela.
- Avaliar as defesas para lidar com situações adversas.
- Identificar as alterações no mundo da pessoa: novas rotinas, novos papéis sociais...
- Facilitar o relacionamento com novas pessoas.
- Abordar os problemas das datas (aniversário, morte, dia do pai, dia da criança)
- Explorar o lado positivo de criar novos laços sem sentimento de culpa.
- Ajudar a restaurar a confiança em si.

Espero assim que este post ajude também aqueles que nos acompanham nesta longa jornada... Amanhã vem sempre um novo dia.

sábado, 7 de março de 2009

Reportagem sobre pais em Luto

http://www.youtube.com/watch?v=YiLGCS5Zarw

Opto hoje por deixar uma reportagem sobre Pais em luto, uma reportagem em que muitos de nós certamente nos vamos rever, mesmo que a perda não tenha sido um filho.

É importante sabermos que não estamos sozinhos na dor que sentimos e que há pessoas disponíveis para nos ajudarem nesta caminhada.
É importante pedirmos ajuda, merecemos.

Deixo o contacto duma profissional da área da psicopedagogia clínica, com formação avançada em saúde mental e com vários trabalhos publicados, para quem quiser ajuda especializada.As consultas são realizadas em âmbito de consultório privado em Lisboa (Campo Pequeno) e em Setúbal (Clínica da Família).

Para mais informações contactar Drª Ana Cardoso: 916286042

quarta-feira, 4 de março de 2009

Para pensar....

Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios
Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos
Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz
Em muitas situações da minha vida me deparei com este belissímo poema, realmente quantasvezes nos apetece gritar e chorar e mantemos o sorriso para que ninguém ache que nos estamos a vitimizar ou não pensem que somos as pessoas mais infelizes do mundo... mas todos nós sabemos que mesmo no meio da dor por vezes encontramos pontos de alegria e até muitos motivos para rir e alegrar mas temos a realidade de nos faltar algo e de ter constantemente uma réstia de saudade. No entanto este poema mostra-nos que não pudemos de forma nenhuma deixar a dor e a saudade dominar os nossos dias, porque sabemos também que se tivermos a ousadia de sorrir para a vida e para o mundo, a vida e o mundo sorriram para nós.....