Centro de Apoio à Pessoa em Luto

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Uma óptima notícia...

Já há imenso tempo que o Capelo de Lisboa ansiava por puder dar esta notícia...

Já temos um espaço,
para puder reunir grupos de entreajuda, para puder fazer terapia individual, através de consultas de psicologia e para puder receber os nossos utentes/amigos.
este espaço é em Campolide, pertence á Igreja de Santo António de Campolide, junto ao pólo de Campolide da Universidade Nova de Lisboa... estaremos lá ás sextas feiras da parte da tarde, mas por motivos logisticos sempre que nos quiser "visitar" deve marcar connosco através dos contactos telefónicos apresentados aqui no quadro ao lado.
iremos iniciar brevemente um grupo de entreajuda por falecimento de conjuge e um outro por falecimento de pai e/ou mãe, inscrevam-se pelos mesmos contactos.
Até breve...

sábado, 24 de abril de 2010

Vidas desperdiçadas


Morri..... e agora estou a caminho do prugatório a reflectir na vida que vivi.


Cada passo que dou, no caminho que precorro é um momento que vivi e que reflito no que escolhi.


E caminho, penso e reflito....e caminho....penso....e reflito....
Até que chego ao prugatório e olho para duas portas; uma delas diz: sofrimentos a outra diz sofrimentos amargurados.


Bem, não sei o que fazer, e por isso mesmo penso um pouco sobre cada uma das frases e resolvo entrar na que diz sofrimentos amargurados.
E assim fiz....é uma sala enorme....com paredes pintadas de preto e um cheiro estranho a enxofre, no meio da sala uma arca bem grande de ferro, fechada com um cadeado. Mesmo em frente à arca estava uma chave que penso que deve de ser do cadeado que fecha a arca.


Dirigi-me até a chave, apanho-a sem medo e experimento a chave no cadeado; a chave entrou....e eu sorri....mas no instante seguinte senti um enorme medo em abrir a arca...
Abro ou não abro??bem se já morri pior é dificil....pensei eu...


Então mesmo com medo abri a arca....e dessa arca sairam algumas das minhas recordações...que ficaram a pairar no tecto da sala dentro de bolas de sabão....no fim sairam umas letras que formaram a seguinte frase: tempo de vida desperdiçada....


Isso fez-me ficar curioso....então começei a olhar uma por uma, as recordações dentro das bolas de sabão....
E vi coisas que já nem me lembrava....outras que fingia não me lembrar...outras ainda que embora me lembrasse muito bem, queria-as arrancar....
E vi coisas que me fizeram chorar....


As ilusões em que acreditei e me fizeram perder tempo da minha existência; as mentiras que escolhi acreditar; as perdas que tive na minha vida e que escolhi não resolver, os sofrimentos amargos que tenho no meu coração por medo de os entender, os fantasmas que me fizeram perder tanta coisa...tanta vida....o amor da minha vida....


Vejo o meu sofrimento, a pena que tenho de mim mesmo em ter sofrido, o tempo que passei a ter pena de mim mesmo e não fazer nada para mudar.


Vejo o meu sofrimento pelas escolhas erradas que fiz contra o meu próprio coração, o meu próprio sentir, os meus sentimentos de culpa em ter escolhido o errado quando sabia o que era o certo, em ter ido pelo caminho mais fácil porque é o mais cómodo quando eu sei que o caminho mais fácil nunca é o correcto.


Em ter perferido o trabalho, a carreira, aos afectos...em ter perferido as ilusões as mentiras, as verdades sentidas como verdadeiras....em ter perferido passar por esta vida e ter desperdiçado tantos momentos e instantes em vez de os aproveitar a simplesmente vive-los e senti-los...


Enquanto chorava...enquanto olhava para o tanto que desperdiçei neste momento único e mágico que é o milagre da vida..enquanto isso....senti-me desolado....senti-me com uma enorme responsabilidade em ter escolhido o que escolhi, em ter vivido como vivi, em me ter lamentado tantas vezes como me lamentei, em ter chorado por pena de mim mesmo tantas vezes como chorei, em ter escolhido acreditar sempre nos mesmos sonhos e ilusões em vez de os ir amadurecendo e os transformando e lutando por eles.....


Fiquei tão desolado que cai de joelhos em frente à arca...olhei para o tecto...e pensei para mim mesmo o que fiz eu à minha vida....
O tecto deixou de ser tecto....e um vulto que me acalmou cheio de luz desceu até mim pegou-me ao colo e levou-me para fora da sala....regressando à entrada das duas portas....o vulto sussurou-me ao ouvido...entra na outra porta e verás como tudo seria mais fácil....


Então entrei na outra porta...e era um enorme jardim...com um lindo lago bem tranquilo e calmo...e perto de uma bela árvore estava uma arca bem mais pequena do que a da outra sala....esta arca era de madeira e parecia bem mais frágil; além disso não tinha qualquer cadeado....abri a arca e sairam borboletas lindas...com cores tropicais...e elas traziam consigo as minhas mais belas recordações....


O amor da minha familia, o amor dos meus filhos....o amor do meu amor....os tantos momentos no mar e com a lua cheia....os mergulhos com alma que dei no mar em que me encontrei e te encontrei também........os tantos momentos de partilha.....os afectos intensos e temperados mas sempre genuinos e verdadeiros....sentimentos belos....sentimentos....nesta arca também estavam sofrimentos...mas estes sofrimentos ao contrários dos outros não me faziam mal, nem me faziam desperdiçar a minha vida, pois fizeram-me evoluir e progredir....afinal todas as recordações carregadinhas de afectos variados...


Poderia escrever tantas coisas....mas por mais que eu escrevesse ficaria sempre tanto por dizer....a mensagem que quero aqui deixar é que a vida faz-se vivendo...amando....lutando por viver...acreditando de coração e com muita fé no amor verdadeiro....isolarmo-nos por medo....ter pena de nós mesmos....sofrer sozinho para não incomodar ninguém.....ter medo de explusar os fantasmas.....queixarmo-nos a Deus que não tivemos na nossa vida o sopro mágico do amor....de nada vale se não tivermos a coragem de aceitar a enorme responsabilidade que temos na vida que levamos, nas escolhas que fazemos e nos sofrimentos que escolhemos guardar para não os resolver....


No fim da vida....de nada vale dizermos que deviamos ter escolhido o amor se de facto não o escolhemos, de nada vale dizermos que deviamos ter amado mais os nossos filhos se de facto não amamos, que deviamos ter vivido sem medo se de facto não vivemos.....o que importa é que enquanto estivermos vivos façamos com coragem a coisa mais simples da vida, e que por vezes nos esquecemos...que é simplesmente viver......


Dinheiro....carros....casas....carreiras....profissões....sonhos....ilusões....fantasmas....eternas indecisões....sentimentos de culpa....solidão....pena....sentimento excessivo de posse....amarguras....sofrimentos que nos fazem desperciçar a vida e nos fazem esquecer de vivê-la com simplicidade e muita verdade....sejam eternamente felizes é o que voz desejo do fundo do meu coração e da minha alma....mas não se esqueçam que para isso tem uma enerme responsabilidade...o de não perder a simplicidade e a verdade da vossa essência.

domingo, 4 de abril de 2010

Reencontro


Levantei-me ainda da mesma forma que me deitei; triste....tristemente triste.
Abri a janela, e olhei o mundo como se já nada fosse igual ao que antes era.
Hoje está um pouco frio, o dia está nublado, e triste como eu.
Hoje o dia está a preto e branco como está o meu interior desde que voaste....
Vivo sem sentido desde que abriste as tuas asas e voaste acima das nuvens....eras tão importante para mim que o sentido do meu mundo e da minha vida eras tu....

Ocupei algum tempo; não sei quanto... simplesmente a olhar o vazio do mundo pela janela do meu quarto, através do vazio de sentido da minha existência oca por não te sentir.

Lágrimas começaram-me a querer fugir da cara...tentei ser forte e não chorar...tentei ser forte e enganar o sofrimento...mas é nestas alturas da vida que nos apercebemos que, sermos fortes é simplesmente ter a coragem de sofrer e sentir verdadeiramente a saudade da intensidade do amor vivido.

Lágrimas começaram-me a escorrer pela cara, pois tive a coragem de chorar....e chorei como choram as crianças...chorei olhando o vazio do mundo pela minha janela através do vazio do meu interior....chorei simplesmente chorando...

Não sei porquê, decidi escolher aquela música que me caracteriza e que me define.
Começei a ouvi-la....começei a sentir a música...começei sofrer ainda mais....não sei bem porquê....

Eu não estva bem!
EU TINHA DE FAZER ALGUMA COISA POR MIM....
Tinha de erger-me deste sofrimento que me está a destruir...e a ti também....
Até que aquela vozinha no meu interior disse-me algo...que eu atentamente escutei e prometi que mais logo na hora certa faria....

O dia passou...até começou a chegar aquele momento certo.
Pus-me rapidamente a caminho para chegar à hora que pertendia e fazer o que tinha planeado..
Cheguei à praia, perto da hora do pôr-do-sol....estendi a minha toalha....e olhei o mar....olhei-o....olhei-o.

Despi-me e fiquei de calções de banho; o sol entretanto já tinha descido mais um pouco, e o céu estava com tons de fogo.....senti que era este o nosso momento outra vez.....

Mergulhei no mar, para te encontrar, com pressa; com revolta; com tristeza; com nostalgia; com uma leve agonia e medo de não te encontrar, mas mesmo assim mergulhei para te procurar.

Parei de nadar...começei simplesmente a sentir o mar...as ondas...a praia...algumas gaivotas que passavam...o cheiro do mar...a nostalgia do absoluto; enfim a força de Deus e da natureza.

Sentir tudo isso acalmou-me; essa calma fez-me boiar...e isso acalmou-me ainda mais...olhei para o entardecer, para o fogo no céu, e fez-me lembrar os teus longos e sedosos cabelos...selvagens mas meigos e macios...aí as lágrimas voltaram a aparecer...parei de boiar....continuei a chorar olhando o entardecer...

Até que uma leve brisa soprou e eu arrepiei-me...tive coragem e fechei os olhos...
E sentindo o mar...senti-te em mim...

Foi entao que parei de chorar; começei a sorrir e mergulhei no mar para te amar....fiquei tanto tempo de baixo de água quanto a força dos meus pulmões permitiram...

Mergulhei no mar para mergulhar em ti....e estando debaixo de água...senti-te tanto, senti que me amavas, que te amo, enfim que nos AMAMOS como sempre e sempre nos amaremos assim.

Mergulhei no mar para te voltar a sentir...e senti-te!

O ar nos meus pulmões esgotaram-se e tive que voltar a subir....quando voltei...não sei porquê mergulhei muitas vezes...”apanhei” muitas ondas como quando fazia quando era pequeno...entretanto o pôr-do-sol estava a chegar ao fim...a hora mágica do momento certo estava a acabar...

Quando estava dentro de água; senti-te perto....tão perto....senti-me acompanhado e completo...senti que estas dentro de mim...para todo o sempre...

Eu sei que não vais voltar, mas quero para sempre te guardar.

Sinto-te perto...cada vez mais perto....mesmo estando tu tão longe...