Centro de Apoio à Pessoa em Luto

segunda-feira, 27 de abril de 2009

o mundo dos adultos...

Quando somos crianças, tudo o que nos rodeia é maravilhoso, a simplicidade com que conseguimos lidar com os "nossos problemas" é espantosa. As nossas principias preocupações centram-se essencialmente na brincadeira ou no jogo para o dia seguinte, (não quero por nada generalizar este raciocionio a todas as crianças, pois todos temos consciência que infeliezmente nem todas as crianças têm a possibilidade ou a sorte de crescer num ambiente familar estavél, saudável e harmonioso).

À medida que vamos crescendo estes "nossos problemas", por variadissimas razões vão-se tornando mais complexos, à medida que vamos tendo conciência de nós enquanto pessoa adulta, apercebemo-nos das nossas fragilidades e quão dificil é saber lidar com inúmeras situações imprevistas, devagarinho, vamos descobrindo que nosso bem estar e o bem estar daqueles que mais amamos a todos os nivéis não depende exclusivamente da nossa vontade...

A partir destas conclusões ou destes raciocionios, muitas vezes surgem os medos, as inseguranças, as fobias...

Através de toda a nossa experiência de vida e de tudo aquilo que vamos aprendendo com os outros e com tudo o que nos rodeia, aprendemos a adaptarmo-nos às novas situações que vão surgindo ao longo da vida, sejam estas boas ou más, podemos ter medo, mas não devemos deixar que ele nos vença ou se apodere de nós e consequentemente não nos deixe seguir em frente.

Na minha opinião um dos truques para combater estes "problemas do mundo dos adultos" consiste em saber aceitar o que o futuro nos reserva com serenidade e interiorizar o pensamento "EU VOU SER CAPAZ DE CONTINUAR A MINHA CAMINHADA!!"

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O fardo do silêncio


Se consigo estar em silêncio, é porque estou bem comigo mesmo, senão é porque estou preocupado, ansioso ou os fantasmas internos que me habitam, não me deixam descansar.
Estar em silêncio é também um exercicio de entendimento que fazemos com os outros, com o mundo e com o nosso prórprio ser.


É através do silêncio que percorremos as interrogações do mundo relacional e emocional que nos habita e nos faz ser quem somos.
É atravès do silêncio, que guardamos em nós, os nossos momentos significativos, para mais tarde recordar, e é com esse mesmo silêncio que encerramos em nós mesmos, o verdadeiro significado que nós damos à maneira como vivemos e experiênciamos todos os sentimentos e emoções.


Guardamos no silêncio do nosso ser e da nossa existência o significado e a essência significante.
Desde que te perdi, nunca mais ouvi, com o mesmo significado aquela palavra que tanto gostava de ouvir; desde que te perdi, nunca mais senti com o mesmo significado o mesmo passeio que faziamos; desde que te perdi, nunca mais fui ao nosso sitio especial, pois ele sem ti nunca mais será o mesmo.


Desde que te perdi, encerrei no silêncio do meu interior este sofrimento inerente ao nosso significado e aos nossos momentos, comportamentos, sitios e objectos significantes.
Desde que te perdi que me encerrei em mim mesmo para te tentar encontrar e vivermos como viviamos.Desde que te perdi, perdi-me a mim mesmo, e é no silêncio do nosso interior que sofremos a perda.

Nesse silêncio que só o nosso ser entende e necessita, e é nesse tempo de silêncio que emergem todos os sentimentos que não me sinto com vontade de explicar a ninguém, pois o que eu sinto, só no meu silêncio sofro e entendo, e somente num silêncio partilhado conseguirei exorcizar essa dor.

Não quero que ninguém me explique nada, e muito menos tenho vontade de explicar ou de me justificar a alguém, este sofrimento que sinto, e que encheu a parte vazia de mim; está agora a tomar conta do meu ser; e aqui está o verdadeiro perigo; pois se esse sofrimento tomar conta de todo o meu ser, eu simplesmente deixo de existir, e se eu deixo de existir o outro que habita em mim também deixará de existir.

Por isso com muita ternura, respeito, confiança, e sobretudo muito amor, que aprendemos a sofrer e a guardar esse sofrimento numa parte de nós. Ao lado desse sofrimento guardamos os significados únicos que aprendemos a construir com essa pessoa, e mesmo ao lado estão todas as nossas recordações, boas e más, pois até essas são importantes.

É nessa altura que levantamos a cabeça, “erguemos” a voz, limpamos o lago de lágrimas interno, e dizemos para nós próprios que esse sofrimento não vai crescer mais que eu mesmo, que esse sofrimento não vai sugar a vontade de viver, que esse sofrimento não vai tirar o significado que eu dou às coisas, que esse sofrimento não me vai impedir de sonhar, que esse sofrimento não me vai impedir de ser novamente feliz, que esse sofrimento não me vai impedir de voltar a sofrer, que esse sofrimento não me vai impedir de viver.


Estou vivo e sofri, porque tive a coragem de amar e de libertar quem teve de ir...nesse momento libertei-me a mim mesmo do sofrimento e guardei-te bem dentro do silêncio do meu ser para todo o sempre e sem nunca te esquecer.

“O homem só pode se encontrar, perdendo-se” (Sartre)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Reflexão....

A morte de alguém próximo que estimamos é com certeza uma das mais intensas experiências de perda que nos acontece. A dor vivenciada entrelaça-se no nosso dia a dia, afecta o nosso corpo e a nossa forma de encarar a vida.

Não adianta querer espantar a dor ou querer que passe rápido. O luto é um processo lento de reestruturação da vida agora sem a presença deste alguém que morreu.

No início custa aceitar esta nova realidade e a sensação inicial é de torpor. O torpor é uma reacção de defesa do organismo frente ao impacto, amortecendo-o de forma a dar tempo para a pessoa se organizar. Demora até a pessoa se adaptar a esta mudança tão significativa em sua vida.

No início é normal uma reacção de negação ao que aconteceu, a aceitar que não verá mais aquela pessoa que não contará mais com ela. Esta negação faz também parte deste processo de absorver o facto e acomodar as emoções.

Vários sentimentos podem ser experimentados neste momento, tais como: tristeza, raiva, culpa, saudade, etc. No entanto, a forma como esta pessoa morreu influencia na forma como vivenciamos o luto. As mortes súbitas, violentas ou por acidente geram com frequência sentimentos mais intensos, como ansiedade, impotência e raiva.

Na maioria dos casos são comuns manifestações físicas, como dor ou aperto no peito, cansaço, dificuldades para dormir e perda do apetite. O melhor não é reprimir esta dor, mas permitir a sua expressão. Reprimir as emoções pode ser bem mais sofrido, além de atrapalhar este processo de luto, prolongando-o. Com o passar do tempo os sentimentos vão perdendo a sua força e a vida aos poucos vai voltando ao normal.

A perda de um ente querido dá-nos muitas vezes a oportunidade de rever o estilo de vida que adoptamos deixando-nos mais conscientes da finitude da vida e da natureza mutável de muitas coisas.

Aceitar o luto é o primeiro passo para uma melhor resolução desta perda. É necessário ser compreensivo consigo e aceitar seus sentimentos. É também interessante compartilhar os seus sentimentos com quem confia, e que seja capaz de escutá-lo sem fazer julgamentos.

E é muito importante que a pessoa em luto se lembre que não está sozinha nesta dor, uma vez que ela faz parte de todos nós.

sábado, 11 de abril de 2009

"Quando eu estiver contigo no final do dia, poderás ver as minhas cicatrizes, e então saberás que eu feri-me mas também me curei".

Tagore

terça-feira, 7 de abril de 2009

URGENTEMENTE


É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
Ódio, solidão e crueldade,
Alguns lamentos,
Muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
Multiplicar os beijos, as searas,
É urgente descobrir rosas e rios
E manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
E a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O outro que habita em mim


O primeiro acto que fazemos quando nascemos é chorar. Esse choro reflecte uma necessidade biológica, mas também simboliza o choque que o recem-nascido tem em relação a um mundo completamente diferente daquele a que estava habituado inicialmente.

Á medida que crescemos, o sofrimento acompanha-nos na nossa vida, em experiências, em relacionamentos, em sonhos sobretudo na vivencia das emoções; penso que se reflectirmos bem vamos chegar à conclusão que o sofrimento é e será transversal na nossa vida. Por isso a pergunta que me faço é porque não estamos habituados a sofrer? Porque não aceitamos o sofrimento como algo que faz parte da experiência humana e sendo algo intrinsecamente nosso e individual?

No que diz respeito à perda de alguém significativo para nós, penso que um dos grandes problemas que contribuiu para o reforço do sofrimento centra-se essencialmente na ilusão que construimos de que o outro nos pertence.

Reparem, dizemos normalmente: “a minha mulher ou o meu marido”, analisando a frase, iremos reparar que esta se inicia com um pronome possesivo, o meu ou a minha, o que transmite um profundo sentimento de posse.

Ora os outros que nos são significativos não nos pertencem mas sim fazem parte de nós.

Os outros que nos são significativos, não o foram simplesmente pelo seu corpo, o seu cheiro ou o seu aspecto físico, mas sim por aquílo que foram e que representam para nós.

Os outros que nos são significativos, não o foram simplesmente pelas coisas materiais que nos deram, mas por aquilo que contribuiram para que sejamos quem somos.

Os outros que nos são significativos, não vão deixar de ser simplesmente porque partiram para um destino incerto; vão continuar a ser sempre significativos, porque vivem em nós, fazem parte de quem somos, daquilo que fizemos, da história que escrevemos, dos muitos sentimentos que partilhámos, das lágrimas que chorámos, enfim da vida que vivemos.
Gostaria de deixar uma palavra de esperança pois os outros que nos são significativos, afinal nunca os vamos perder de facto, enquanto viverem em nós.

Por isso gostaria de deixar uma palavra de conforto, pois o sofrimento de perda, depois de resolvido, transforma-se numa recordação reconfortante, que nos acompanha e nos aconselha nos nossos momentos mais solitários.

Gostaria também de deixar uma palavra de forte empatia, pois todos nós já sofremos, pois todos nós nos compreendemos através desse sofrimento, e sómente através da partilha dos nossos sentimentos, poderemos “cristalizar” o nosso sofrimento e transformar aquilo que nos faz sofrer, em algo que nos faça recordar e sorrir nostalgicamente, e nos preencha novamente o vazio que pensamos ter.

Por tudo isso aqueles que foram, continuam a ser e a viver dentro de nós até que nós sejamos quem somos, até que a nossa história perdure na eternidade das existencias.

“O que fazemos em vida, ecoa para a eternidade.”