Centro de Apoio à Pessoa em Luto

terça-feira, 26 de maio de 2009

A importância das pequenas batalhas



Nenhuma grande guerra se ganha, se não se der a verdadeira importância ás pequenas batalhas.

De facto quando entramos num processo de luto, começamos a depararmo-nos com uma grande guerra....e tal como todas as tempestades e guerras, chegam sem avisar!

Entramos talvez, na grande guerra da nossa vida, a guerra que temos de fazer contra nós mesmos, a guerra onde o nosso grande e poderoso inimigo somos nós próprios, o nosso passado, os nossos medos e angústias, os nossos projectos futuros, a maneira como viviamos no passado, e a grande nostalgia de termos a consciência de já não sermos a pessoas que fomos.

Embebidos no nosso sofrimento, começamos a quebrar...cada dia, deixa de ser um dia; e passa simplesmente a ser um dia a preto e branco, cada vez que acordamos, passa a ser uma batalha porque pensamos que é dificil acordar; cada vez que vamos para a rua passa a ser uma pequena batalha porque é dificil recordar, cada vez que voltamos para casa é uma grande batalha porque é muito dificil chorar......

De início começamos a perder todas as pequenas e grandes batalhas; e começamos a ficar “afundados” nas nossas magoas, recordações, ansiedades, angústias, ilusões; depois, porque o sofrimento fica mais intenso, ficamos cansados, por vezes deprimidos, muitas vezes sem esperança, e demasiadas vezes sentimo-nos sozinhos e incompreendidos.

É já nesta altura que a vida para nós deixa de ser vivida existencialmente e significativamente e passa a ser apenas um esforço de sobrevivência.
É ja nesta altura que além de sofrer por aquele/a que perdi, sofro também por me estar a perder dentro do milagre singular que é a existencia humana. É ja nesta altura em que além de sofrer pela perda, sofro também por não saber sofrer e lutar.

Amigos e amigas, num processo de luto sofre-se muito intensamente, e é por isso que cada um de nós tem de fazer a sua parte; levantar a cabeça e lutar as suas pequenas batalhas; pois são essas que são verdadeiramente importantes para podermos emergir novamente para a vida.
Quando nos levantamos temos de travar logo a nossa primeira batalha para nos levantarmos bem!!! Com energia, com esperança, com fé, com projectos...e mesmo se acordarmos menos bem....pois a batalha será ainda maior, pois temos a oportunidade de mudar, ficando mais bem dispostos, fazendo um esforço genuíno; pois é importante sofrer, mas também é deveras importante não deixar de viver.

Falando mais claramente, aquilo que quero dizer com o travar as nossas pequenas batalhas; estou a referir-me a não nos deixarmos abater pelo cansaço do sofrimento, estou a referir-me a fazer um esforço por estar com outras pessoas que me são significativas, estou a referir-me claramente em não nos deixar afundarmos no nosso próprio sofrimento, em não cair na armadilha da perda e sugar o significado da nossa própria existência.

Estou a referir-me claramente para lutarmos....e lutarmos porque quem teve de ir, gostaria que lutassemos; e lutarmos, porque mesmo cansados e sem força se optarmos, podemos dar luta e ganhar esta pequena grande batalha.

Estou a referir-me claramente em sermos fortes, mesmo quando estamos fracos, estou a referir-me a ter esperança mesmo quando perdemos a fé, estou a referir-me em criar um novo projecto de vida, mesmo quando estavamos satisfeitos com o que tinhamos, estou a referir-me para claramente erguermos a nossa cabeça, e olharmos para a luz adormecida que há em nós.

Estou a referir-me claramente que é tão importante aquilo que podemos alcançar como aquilo que já alcançamos; estou a referir-me que é tão importante a pessoa que eu era, como a pessoa em que me estou a tornar, estou a referir-me que é tão importante sofrer como é lutar.

Com muito respeito e ternura por todos, gostaria que não deixem de lutar por vocês mesmos, pela vossa vida, por tudo aquilo que poderão alcançar, por tudo aquilo que poderão viver, por todas as pessoas que poderão ajudar, por tudo aquilo que ainda poderão fazer, por todos os projectos que poderão alcançar, por todos os sentimentos que poderão construir; mas acima de tudo por todas as vossas recordações que somente vivem porque voces existem!

Há certas batalhas que percisam de ser travadas mesmo à partida sabendo que as vamos perder, o importante é ganhar a guerra, é voltar a viver e para isso temos de parar de sofrer!!! Boa sorte nas vossas pequenas batalhas.

Que o sofrimento da vida, faça-me entender o significado da minha existência.

sábado, 23 de maio de 2009

Comparar sofrimentos


O que doi mais?
Dizer que perdi uma parte de mim, ou explicar que tenho uma dor de tal maneira forte no meu coração, que me faz sofrer horrores?
Dizer que tenho um espaço vazio em mim que nunca mais vou preencher; ou sentir-me esmagado pelas recordações que tenho de quem partiu.

O que doi mais?
Sentirmo-nos sozinhos no nosso sofrimento, ou sentirmos que os outros não estão a sofrer como achamos que deviam de sofrer, e por isso, sentimo-nos revoltados, e por vezes com alguma raiva.

O que doi mais?
Sentir a angústia de sofrer por um passado que já não volta, ou sentir ansiedade por não poder realizar mais os projectos que tinhamos elaborado?

O que doi mais?
A dor dos pais? Dos filhos? Dos conjuges? ...

A dor que doi mais, para mim mesmo; é a dor que trago comigo, por isso não vale a pena compará-la com mais nenhuma, porque a minha dor é a maior de todas, porque é minha!

Por isso não vamos comparar sofrimentos de perda, pois esses sofrimentos são inerentes à história de vida de cada pessoa, ao significado que cada um construiu com o outro, aos projectos que tinha, as caricias que teve, à intensidade com que viveu, pois a medida do nosso amor é também uma das medida do nosso sofrimento. Se eu entender que a minha dor é a maior de todas para mim mesmo, e entender em simultâneo que a dor do outro, é a maior para ele mesmo, então entenderei que o principal é respeitar a forma como cada um sofre no silêncio do seu próprio ser. Respeitar os sentimentos de dor, de angústia, de revolta, por vezes de raiva e agressividade, outras vezes com surtos de choro e nostalgia, outras vezes ainda com uma enorme inércia ou com uma recusa da realidade, mas sempre com uma grande autênticidade na forma como o expressamos.
Por tudo isso, há que entender as diferentes formas de vivenciar, expressar e interpretar o sofrimento (tanto nosso como dos outros).

Há pessoas que reprimem o choro, mas no entanto choram sozinhas; há pessoas que são mais fortes que outras, mas no entanto tem momentos de fragilidade; há pessoas que são torres de marfim, mas no entanto essas torres um dia caiem; mas mesmo essas pessoas que á primeira vista não sofrem como a “maioria” das outras pessoas, mesmo essas, sofem tanto como essas outras; e sofrem pela medida do seu sentimento, e sofrem porque os outros não respeitam o seu sofrimento em silêncio, e sofrem porque não são compreendidas e aceites pela maneira autêntica como estão a sofrer, e sofrem porque não conseguem compreender como esses outros, que também sofreram e sofrem, não entendem que se possa sofrer de maneira diferente e sofrem porque além de sofrerem não têm ninguém para partilhar e entender o seu sofrimento logo, sofrem sozinhas.

Por isso meus amigos, e no meu entender o importante não é comparar sofrimentos, é aceitar o nosso próprio sofrimento, é compreender o sofrimento dos outros, que têm a sua maneira intima de sofrer, é partilhar as diferentes formas de sofrer para que todos nós nos apoiemos nesta longa caminhada que se for feita em conjunto é menos penosa, é menos longa é menos triste....

Seja como for, a caminhada de sofrimento que temos de fazer, iremos fazê-la; sozinhos ou acompanhados, é já uma opção de cada um, mas um coisa é certa, todos nós teremos que caminhar nesse trilho do sofrimento.

Na estrada da minha vida, perdi-te no meu olhar, e foi aí mesmo que te encontrei.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Quando Acontece...

Lembrei-me das crianças, dos adolescentes...
Quem de perto com eles convive, deve muitas vezes questionar-se sobre a melhor maneira de poder auxiliar a superar, ou a tornar mais facil a ausência ou perda de alguém que lhes seja próximo...
Depois de algumas leituras optei por transcrever um excerto do livro denominado Interiores, cujo autor é o Pedopsiquiatra Pedro Strech (2003):
"...Frequentemente encontramos rapazes ou raparigas de diferentes idades, que conheceram de forma esperada ou súbita a morte de familiares próximos. (...) Como se imagina são situações sempre muito dificeis e dolorosas (...). Frequentemente envolvem abordagens muito dolorosas, que também nos questionam sobre a essência da vida, a sua justiça, o seu significado mais profundo. A muito não épossivel responder, nem sequer comentar, tal a forma como inrompem. Que dizer de quatro irmãos, entre os oito meses e os sete anos, que perdem a mãe? De um rapaz adolescente que perde os dois pais?
(...)
Independentemente das suas idades, importa preservar a imagem do familiar na memória da criança. falar dele sempre que vier a propósito, responder à curiosidade de quem pergunta, facilitar o acesso à figuração de uma imagem (como fotografias), são tudo pontos que facilitam a reorganização psiquica face à perda. O oposto é negativo.
(...)
Como sabemos, todos os bocados da vida são conversáveis. Mesmo os mais dolorosos, injustos ou misteriosos, embora não existam receitas. Ou , com a única receita de tudo poder ser dito à medida da justa necessidade da criança. Mesmo quando o tema é a morte. Porque a vida tem sempre recursos, e desde que saiam pelo coração, está sempre bem."

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Luto e saudade...

Quando perdemos alguém que amamos, enfrentamos um período de vivência do luto, que é a adaptação à perda propriamente dita. A mente tem, assim, um trabalho pela frente: reorganizar internamente todos os sentimentos e afetos ligados à pessoa amada e perdida, assim como ao vínculo que existia com essa pessoa.

O trabalho do luto é árduo. A capacidade de fazer com que os sentimentos sobrevivam à morte é, ao mesmo tempo, uma grande tragédia e uma condição básica para ser humano. Não conseguimos simplesmente desativar os sentimentos e nem desligar os afetos. Pelo contrário: durante um tempo, eles não fazem outra coisa senão reclamar o objeto perdido, daí a tristeza e a prostração típicas da pessoa enlutada.

A má resolução do luto resulta em formas patológicas de tristeza, podendo ser determinante de síndromes depressivas. Mas o luto, por si só, é um processo normal e não pode ser confundido com os quadros de depressões clínicas.

Se o luto é trabalho, quando é que ele está concluído? A melhor resposta é a elaboração do luto, ou seja, a incorporação daquela perda. Isso demanda tempo e não há um caminho pré-estabelecido; cada um faz o seu. O que é possível para a mente cicatrizar essa dor é a assimilação da mesma, não a sua anulação. É por isso que há dor toda vez que se mexe na ferida deixada por uma perda, mesmo depois de muito tempo transcorrido desde seu acontecimento. Só que agora, com o luto elaborado, essa dor é suportável, e o vínculo que antes existia pode ganhar outro destino, como a saudade, por exemplo. A lembrança, assim, não evoca sofrimento.

Saudade, no fim das contas, é isso mesmo: um misto entre a dor da ausência e a alegria de verificar que aquilo que amávamos no mundo externo continua vivo e preservado no nosso mundo interno. Essa talvez seja a forma mais humana de driblar a morte, e serve como prova de que quem partiu não virou um finado, porque até mesmo o fim, no fim das contas, pode não ser assim tão absoluto.

domingo, 10 de maio de 2009

Percursos necessários de dor

Quem lida de perto com pessoas que passam por perdas dolorosas, não poucas vezes sente a impotência pela incapacidade de fornecer determinadas respostas solicitadas. Infelizmente, não podemos voltar a fazer viver quem partiu nem destacar nenhuma receita mágica anti-dor porque, realmente, não existe.
Doi quando caímos no chão, doi quando nos queimamos sem querer, doi quando torcemos um pé ou entalamos um dedo... tem que doer quando nos bate a notícia da morte de quem nós gostamos. E como um ou um dedo passam por uma espécie de "luto físico", até voltarem ao estado de equilibrio anterior, também a ferida da perda de alguém necessita desse tempo, desse espaço. Atenção por isso às mensagens de patologização do sofrimento. Vivemos num tecido social anti-dor que faz do sofrer ora um tabu ora uma compilação de programas televisivos.


Os discursos dos "Grandes", curiosamente, também acompanham as mensagens implícitas da sociedade que nos rodeia...por isso atenção à próxima vez que ouvir o seu técnico dizer-lhe "...está num luto patológico... não é suposto estar a sentir isso".

Como a partilha de percursos de luto pode ser importante para aqueles que estão estão igualmente a passar por um processo de luto, deixo-vos com um relato na primeira pessoa. Até Sempre.

" Desde que me lembro de mim mesmo, a minha avó esteve sempre presente nos meus dias, momentos de brincadeira, de partilha e até algumas chamadas de atenção que eram precisas! (...) Ainda sinto o seu cheiro e os abraços apertados que faziam do meu dia o melhor dia. (...) Tudo corria bem, e parecia perfeito, até lhe ter sido diagnosticado cancro da mama - não queria acreditar, não nos podia estar a acontecer tal coisa… (...) Foi um tempo muito complicado. Primeiro veio a quimioterapia e todas as complicações que daí surgiram; depois a difícil operação e ainda tratamentos de radioterapia. Incrivelmente, a minha avó era a pessoa que mais dava força à família, dizendo que tudo ia correr bem - foi ela que rapou o seu cabelo e programou a ida a Espanha para comprar uma peruca que delicadamente penteava todos os dias para ir à rua. Muitas foram as vezes que a acompanhava ao Hospital para consultas ou para realizar tratamentos de quimioterapia. (...) Tempos difíceis vivemos… (...) Quando tudo parecia estar bem, melhor, novas complicações da doença surgiram: as temíveis metástases tinham-se espalhado por alguns órgãos vitais. A minha condição de enfermeiro, permitiu que, infelizmente, percebe-se o que se iria suceder, qual iria ser o fim desta luta constante que a doença determina! (...) Muitas foram as idas ao médico, exames realizados e a resposta era sempre a mesma. Claro que nessa altura a minha avó esteve na minha casa, onde todos os dias o seu estado geral piorava mas, como habitual, tinha um sorriso no rosto e tentava alcamar-nos quando todas as forças pareciam ter esgotado. Posteriormente teve algum tempo internada no Hospital, mas pediu para ir para a sua casa, pois consciente disse que era lá que queria passar a sua última fase de vida! Durante uma semana não dormi e fiquei todo o tempo com ela de mão dada enquanto descansava - a minha avó sabia que o que tanto temíamos estava prestes a chegar. Todos os dias pedia-me para lhe ler umas páginas da bíblia e juntos rezávamos, toda a família se envolvia e ali ficávamos a escutar, quem sabe as ultimas palavras dela! Na madrugada de 29 de Maio de 2008, de mãos dadas, sozinhos no quarto, a minha querida avó já sem conseguir falar, olhava para mim com os olhos mais abertos que nunca, queria-me dizer algo, e eu sabia o que era…tinha chegado o momento! Trémulo, cheguei perto dela e disse que estava com ela naquele momento e sempre. Juntos, demos um sorriso e assim foi o último momento… - Dias antes, toda a família tinha-se despedido, a minha avó fez questão de juntar a família toda em redor de sua cama e todos, de mãos dadas, dissemos umas palavras que jamais serão esquecidas, a minha avó disse: “não tenham medo, para onde eu vou todos vamos um dia, vou estar lá a olhar para vocês, e um dia iremos encontrarmo-nos novamente”
Todos os dias ao acordar lembro-me das suas palavras e acredito firmemente que esse dia vai chegar, acredito que a minha avó está num sítio magnífico esem dor, acredito que olha por mim. Quando tenho saudades dela, costumo usar o seu relógio, fico a ver os minutos passarem e sinto o seu cheiro…sinto que está perto de mim e isso conforta-me! Sei que, como eu, existem pessoas que sofrem com a partida de quem mais amam, mas acreditem, eles permanecem vivos enquanto nós nos lembrarmos deles. Olhem para o céu e agradeçam por termos tido a sorte de conhecermos pessoas tão especiais quanto eles, recordem bons momentos que passaram juntos e sorriam, eles gostam que assim seja! Esta é a minha história, Obrigado avó Catarina por me teres ensinado tanto e por seres a pessoa fantástica que és, um dia irei ver-te e juntos vamos dar o tal abraço que tanto gostamos".

terça-feira, 5 de maio de 2009

Fluxo vital

Na vida estamos sempre a lidar com perdas. Algumas são naturais e orgânicas, enquanto outras são extremamente significativas e dolorosas, na medida em que representam uma grande ausência. Esta dor psíquica, pode ser arrasadora, situacional, frequente e reincidente. Lidar com ela requer a reorganização dos “nossos objectos internos”, a mudança dos nossos paradigmas e a aceitação da nossa própria vulnerabilidade.
Algumas perdas são elaboradas com maior facilidade, como a reparação de uma noite de sono bem dormida, enquanto noutras temos de “reparar” o nosso ego até que este esteja livre para se vincular a novas figuras significativas.
Lidar com a morte pode ser desconfortável, mas muitas vezes é inevitável encará-la. Não há como ignorá-la, deixá-la fora dos nossos projectos de vida, pois esta acompanha-nos a todo instante em cada perda.

A cada segundo as nossas células morrem e renovam-se, a nossa memória aos poucos vai-se esvaindo e recebendo novas informações, e, nas nossas relações, temos perdas e ganhos emocionais.
Enfim, tudo é um fluxo constante, perdas e ganhos, chegadas e partidas, encontros e despedidas, não podemos deter isto, mas como disse Chaplin:
“A vida é maravilhosa quando não se tem medo dela”, ainda que o medo seja uma faceta dela. E como uma experiência dolorosa pode ser uma experiência de vida no sentido de maturidade, de modo a extrair dela um ganho, opto por finalizar com uma frase de Nietzsche:

“O que não provoca a minha morte faz com que eu fique mais forte”.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

"Uma senhora de 47 anos, Isabel, que exerce a profissão de secretária, perdeu o marido, de 50 anos (Carlos), há quatro anos, num acidente rodoviário, quando a ia esperar ao aeroporto. Isabel revela sentimentos de agressividade que vinha sentindo, «por vezes eu ‘perguntava’ ao Carlos: porque me deixaste? Não vês a falta que fazes nesta casa? Agora que a vida nos corria tão bem é que decides abandonar-me?!... Passada toda aquela revolta, desfazia-me em lágrimas e culpava-me por ter sido egoísta, por lhe ter quase exigido que me fosse buscar…» E prossegue o seu relato, referindo a raiva sentida contra os familiares mais próximos, «tive conflitos frequentes com a minha filha, pois muitas vezes responsabilizava-me por não ter feito o pai feliz; já o meu filho remetia-se ao silêncio; senti que ele me evitava e isso irritava-me…». Relativamente aos restantes familiares, «apenas a minha irmã mais nova me deu algum carinho; todos os outros, quer fossem meus familiares quer do Carlos, trataram-me com toda a indiferença». Os amigos «não prestam; apenas vieram ao funeral e depois, quando me viam na rua, só se não pudessem é que não mudavam de passeio; ficamos com a sensação que temos peçonha…». Salienta que «fiquei, e por vezes ainda me sinto, revoltada com todos, o pessoal do hospital onde o Carlos esteve em coma, durante três meses, era extremamente antipático, o médico era horrível, não me dava informações nenhumas, acabei por fazer queixa dele ao director do hospital…» e, para finalizar, «até contra Deus me insurgi, eu que era crente… fiquei tão indignada com tudo que abandonei a Igreja…».”
in livro "Desatar o nó do luto" autoria de José Eduardo Rebelo...
Quantas vezes sentiu já esta dor? Quantas vezes fez já estas perguntas a si mesmo(a)... Para ajudar a ultrapassar esta situação é que a Apelo existe... a criação dos Capelos aparece para espalhar esta ajuda pelo país...
Nós na Capelo de Lisboa temos feito tudo o que nos é possivel para responder ás solicitações de quem nos procura... no próximo dia 9 teremos mais um grupo de entreajuda para viúvas e viúvos em lisboa... se precisa de nós contacte-nos e compareça... estamos á sua disposição...