Centro de Apoio à Pessoa em Luto

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

É sempre com um enorme entusiasmo que recebo novidades da Carla, Coordenadora da Capelo Lisboa, especialmente quando me diz que alguém novo a contactou. É bom saber que começamos a pouco e pouco a desmistificar todo o conceito de Associação e começamos a compreender os verdadeiros fins que têm as pessoas que por detrás dela estão.
Quando entrei para a Apelo, tinha também sofrido uma perda muito dolorosa recentemente. Falei dela no meu último post. Eu sei que sou muito jovem, que muito provavelmente terei uma longa vida pela frente, mas isso não mudou minimamente o que senti. A verdade é que foi aqui que aprendi a encarar a realidade e a compreender todo o processo que estava a passar. Estudo psicologia, é claro que conhecia várias teorias, mas a verdadeira partilha de sensações que aconteceu no primeiro grupo de Entreajuda, com duas senhoras absolutamente fantásticas com as quais teria ficado o dia inteiro a conversar, e embora as nossas perdas fossem de pessoas com papéis completamente diferentes nas nossas vidas, foi realmente a forma mais gratificante, calmante para superar tudo, e isso supera qualquer estratégia ou processo terapêutico que eu própria venha um dia a exercer em outras pessoas, dada a minha futura profissão. Por instantes vi-me reflectida nas palavras delas. Como futura psicóloga aprendi que é no falar que reside a esperança. Quando finalmente conseguimos falar abertamente sobre aquilo que a nossa alma sente, e choramos ao contar tudo isto, ou rimos e choramos, toda a libertação dessas sensações trará a "anestesia" que precisamos para prosseguir. Eu não acredito que a dor de ter perdido alguém algum dia termine, mas acredito vivamente que podemos aprender a viver com ela, e podemos aprender a aceitar o rumo que a nossa vida nos deu.
Ainda relativamente a isto tudo, termino com uma frase que uma Professora minha um dia proferiu numa aula, e que ao contactar com a experiência de algumas pessoas que têm recorrido à Apelo me tem ocorrido muita vez.

" Quem perde o cônjuge torna-se viúvo, quem perde os pais torna-se orfão, como podem constatar existe uma palavra para estas duas perdas, mas não existe em nenhuma língua a palavra que traduza a dor de perder um filho."

1 comentário:

Boaz disse...

Na verdade, na língua hebraica existe uma palavra para um pai que perde um filho: shakul. Traduz a ideia de desamparado.
Pode alterar o último parágrafo do seu artigo.