Projecto o meu existir pouco a pouco naquilo que venho descoberto ter uma pertinência estrondosa no acumular de dias com mais ou menos sentido. Somos invariavelmente seres de e em relação. Gostamos de pessoas e queremos gostá-las…gostamos de ser gostados e de fazer continuar esse tal gostar, como se dele se depreendesse algum amor-próprio.
Não existem protótipos relacionais, não existem fórmulas mágicas nem tão pouco perfeições relacionais. No fundo, o grande problema, desconheço se será mesmo um problema ou um desconforto, será quando assistimos ao saber que podemos perder as pessoas de quem depositamos o nosso gostar.
Não existem protótipos relacionais, não existem fórmulas mágicas nem tão pouco perfeições relacionais. No fundo, o grande problema, desconheço se será mesmo um problema ou um desconforto, será quando assistimos ao saber que podemos perder as pessoas de quem depositamos o nosso gostar.
Antecipamos a perda, para sabermos encarar-lhe num futuro ténue, mesmo sabendo que nunca saberemos fazê-lo. Antecipamos e antecipamos. Vivemos num aqui meio acolá que é preciso ter consciência para desfraldarmos o devir inevitável para o perene.
Aos poucos, no avançar dos dias, vou me deparando com este nosso lado que, apesar de tudo, nos faz saborear os momentos.
A felicidade é isso mesmo, pelo menos para mim o é, … momentos mais ou menos breves que passamos a querer reproduzir, ou, pelo menos, voltar a sentir o que sentimos num tal momento significativo, sentir a intensidade do que sentimos.
Bloqueio de repente num idoso homem a ler o seu jornal… a ler os dias que outrora já teve…sempre ocupados, sempre a serem projectados num amanhã que agora chegou. Parece querer dar alguma forma ao fluxo existencial que lhe corre no seu ser…Diz baixinho para a empregada que quando morrer já não poderá beber café!! Antecipa-se à cruel paragem do projecto sempre inacabado! Projecto-me inevitavelmente nele e tento aniquilar tal projecção, como se não quisesse encará-la. Sempre a andar mais que as pernas, diria alguém importante…mas no fundo é um eu que corre sem mim, um eu que corre com todos nós.
A tarde está harmoniosa. Pego na “Cura de Schopenhauer” e leio, pela incontável vez, o que gostaria, no fundo, de deixar-vos hoje :
"(…) Grande parte da graça da vida perde-se se nunca tirarmos os nossos mecanismos de protecção e partilharmos a alegria. Porquê correr para a porta de saída antes da hora do fecho? (…)".
Yalom, I. (2006) in A cura de Schopenhauer
Amanhã é segunda-feira!
Até sempre.
André Viegas
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