Recentemente fiz uma formação na área do luto e, curiosamente, um dos exercícios que nos propuseram, imaginem, foi o de escrevermos o no nosso próprio epitáfio.
À primeira vista, parece ser uma tarefa fácil, sem nada de mais, mas foi curioso, no entanto, constatar a mobilização de uma resistência significativa por parte de todos em realizar o pedido.
Foi-me difícil por na pele de um já não eu uma vez que continuava a ser e a sentir, achando na altura impossivel projectar-me nesse espaço finito da vida.
Alguns epitáfios foram lidos e o silêncio parecia querer invadir o espaço. Em tom de partilha deparámo-nos com o facto de sentirmos que ainda tinhamos muito projectos a serem realizados e que se o tal dia fosse amanhã, não iriamos completos.
Pessoalmente, pensei nos gosto de ti que ainda me faltavam dizer e como ficaria chateado (!) ao morrer sem os dizer, sem os sentir com as pessoas de quem tanto gosto e que me habitam todos os dias pelas tantas coisas que sou.
A formação continuou e o famoso trabalho de casa espreitava na forma de um pedirmos a alguém especial para escrever o nosso epitáfio.
Assim o fiz e o resultado foi o seguinte:
"Partiste mas a tua essencia permanecerá para sempre em cada um de nós.
Um grande psicologo mas acima de tudo uma grande pessoa, o grande André."
Os dias passaram e hoje, ao pensar neste exercício, deparo-me com a certeza de que aquilo que de bom significámos para as nossas pessoas queridas, que já partiram, não se alterará e constitui-se como algo que temos que continuar a dar forma.
Desejo não terem mais que escrever o espitáfio de ninguém, mas sei que o facto de terem significado algo especial para alguém, constitui-se como um significado para aquilo que ainda podem ser.
O que nos diria a nossa pessoa querida hoje?
Força e até sempre.
André Viegas
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